Ir para o conteúdo
  • Bem-vindo!
  • Consultas
  • Sobre mim
  • Contactos
  • Blog
Menu
  • Bem-vindo!
  • Consultas
  • Sobre mim
  • Contactos
  • Blog

Sobre a ambivalência emocional

Uma música mais arrastada, um dia de chuva, escuridão, silêncio, solidão, tons de azul e cinza. Comumente, na nossa cultura, esses aspectos relacionam-se à tristeza, mas ela também pode surgir num dia de sol, na praia, na multidão, na presença de amigos ou de uma música agitada – assim como alguém pode sentir alegria num cenário cinzento e silencioso.

A palavra “melancolia” tem sido usada há muitos anos, desde a Antiguidade até aqui, e o seu significado já foi transformado muitas vezes. A etimologia da palavra remonta à Grécia Clássica: é a junção de Mélas (negro) e Cholé (Bílis), uma referência à teoria humoral desenvolvida naquela época. Joke Hermsen, no seu livro “Melancolia em tempos de perturbação”, irá alegar que a melancolia tem a ver com a consciência da passagem do tempo e o caráter transitório da vida, e que o estado melancólico pode levar ao estímulo da criatividade e da reflexão.


Hoje, a melancolia não se enquadra numa classificação oficial no rol dos transtornos psiquiátricos segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais 5 (DSM-5), sendo antes um estado mental subjacente à depressão, indicando apatia, falta de ânimo e tristeza, mesmo que a pessoa não tenha motivos concretos para isso. Mas é na melancolia enquanto definição mais aberta em que foco o meu interesse. Um sentimento com um sentido tão múltiplo, e que para muitos é desconfortável. Agridoce.


Åsa Jansson, do Queen Mary Centre for the History of the Emotions, sugere que o termo “melancolia” pode ser útil na língua inglesa, na qual “existem poucos substantivos para descrever um estado de espírito que é, ao mesmo tempo, calmo, receoso, desesperador, taciturno, inquieto, de vazio, e desejoso de algo inexprimível”. O centro de estudos sobre a história das emoções parte do pressuposto de que as emoções – como conhecemos e interpretamos – são produzidas pela linguagem que temos disponível para conseguir expressá-las. Por isso, às vezes, pode ser tão difícil definir o que sentimos em alguns momentos. Não temos uma palavra para aquilo.


Para além da melancolia, outra palavra que parece carregar ambivalência é a nostalgia. Ela diz respeito à falta que sentimos ou ao desejo de voltar a um período com o qual o indivíduo tem conexão emocional. Para a psicóloga Krystine Batcho, a nostalgia tem algumas funções na nossa vida, como nos ajudar a unificar o nosso senso de self do passado e do presente, ou seja: acaba por nos relembrar das experiências que passamos e quem nós somos, o que pode ser extremamente útil em períodos de transição. Outra aparente função da nostalgia é criar vínculos, conectar, e isso ocorre quando lembramos de pessoas importantes na nossa vida, surgindo também a noção de pertencimento.


Contudo, esse sentimento pode evocar tristeza devido à constatação do fato de que aquele período rememorado nunca mais poderá ser vivido novamente, ou alegria pela simples reminiscência de como eram bons os tempos de outrora. Aí surge a sua ambivalência.

Sabemos que isso não é alegria, mas será que é tristeza? Ou sabemos que não é tristeza, mas será alegria? Escolhi falar da melancolia e da nostalgia nesse texto porque me parecem ser sentimentos socialmente imprecisos e que, por isso mesmo, nos permitem refletir melhor acerca da natureza das nossas emoções. Isso porque a maior parte das emoções em destaque hoje em dia quase que precisam ter um caráter objetivo e claro – positivo e negativo. E quão abertos estamos para falar ou pensar em elementos que fogem dessas definições?


Acolher emoções, tentar desvendá-las; cada um de nós tem uma vasta história, uma teia de memórias particular que não pode ser resumida às noções básicas e gerais que possuímos do que é estar triste, com raiva ou alegre. As emoções aparecem não como entidades desprovidas de qualquer significado, mas como avisos – se estamos com raiva, isso quer dizer alguma coisa. A raiva surgiu por um motivo, num contexto específico, e esse contexto é inteiramente seu. O mesmo para todas as emoções para as quais temos um nome, ou para as quais o nome ainda não foi inventado. Permitir-se olhar com cuidado para o que se sente expande sentidos e significados e, assim, abrimos novas portas e possibilidades de vivenciar cada situação

Referências:
∘ Batcho, K. I. (2020). Nostalgia: the paradoxical bittersweet emotion. In Nostalgia Now (pp. 31-46). Routledge.
∘ Hermsen, J. J. (2019). La melancolía en tiempos de incertidumbre (Vol. 111). Siruela.
∘ The Story of Melancholia – Åsa Jansson (https://emotionsblog.history.qmul.ac.uk/2011/11/the-story-of-melancholia/)

Compartilhe este post

  • Facebook
  • Linkedin
  • Whatsapp

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

"Por mais que os nossos problemas se assemelhem de alguma forma, todos somos únicos e temos percursos singulares"

Contactos

  • +351 936 737 088
  • @psi.carolinaguimaraes
  • carolinaguimaraes.psi@gmail.com

Links

  • Livro de Reclamações
  • Política de Privacidade
  • Ordem dos Psicólogos

Copyright © 2025 Carolina Guimarães, Todos os Direitos Reservados